Sentado em uma cadeira de um restaurante, João espera. Toma um
pouco de água para acalmar a ansiedade, porém não consegue parar de pensar em
sua espera. Ele é um rapaz pontual, que odeia atrasos e procura acertar o
relógio assim que sente que o objeto começa a retardar.
Impaciente, mas contido João olha de um lado para o outro procurando pela sua espera... e nada... e nem ninguém surge para suprir o exagero de ausência em seu resquício tortuoso de vida. Cheio de dores por conta de cada passo errado que deu até o restaurante, se viu sentado. Não percebeu o ato de sentar, mas quando se deu por conta até um copo d'água já tinha em mãos. E bebia, bebia, se afogava naquele líquido na esperança de que este matasse a sede da passividade de seu olhar. Porque nada tinha o matado ainda. Não a sede, mas sim ao próprio João. Ele que já teve o sonho de morrer debaixo d'água.
Impaciente, mas contido João olha de um lado para o outro procurando pela sua espera... e nada... e nem ninguém surge para suprir o exagero de ausência em seu resquício tortuoso de vida. Cheio de dores por conta de cada passo errado que deu até o restaurante, se viu sentado. Não percebeu o ato de sentar, mas quando se deu por conta até um copo d'água já tinha em mãos. E bebia, bebia, se afogava naquele líquido na esperança de que este matasse a sede da passividade de seu olhar. Porque nada tinha o matado ainda. Não a sede, mas sim ao próprio João. Ele que já teve o sonho de morrer debaixo d'água.
Quando mais jovem, em uma manhã, João escutou a voz do locutor da
rádio dizendo que a felicidade tinha que ser procurada todos os dias. O rapaz
pediu a bênção ao seu pai, deu um olhar de esguelha à sua mãe já falecida em
vida e partiu dizendo que iria procurar um presente para si. Não quis pensar em
nada e logo saiu de casa, não teve tempo de pensar que aquela frase não passava
de uma metáfora. Na verdade ele não sabia o que era metáfora, pensava que era
um tipo de queijo.
Até o final daquele dia caminhou bastante, porém só encontrava a
própria cidade coberta de formigas exaustas de suas funções biologicamente
robóticas. Não achou o que queria e por isso não desistiu, sabia que se andasse
mais um pouco acharia o que lhe foi prometido.
Depois de muito tempo caminhando João já não era o mesmo. O seu
cabelo cresceu e mudou um pouco a sua cor, as unhas grandes e cheias de terra,
os dentes podres e o corpo fedido de vida. João se sentia menos humano e mais
parecido com Deus – por se assemelhar ao fruto da imaginação alheia. Andava,
João nunca parou. E quando parou foi para escutar a voz do locutor da rádio
parada em uma vitrine de uma loja de utensílios quebráveis inúteis à
existência. O homem da rádio com a voz grave e já rouca de velhice dizia que a
felicidade era uma questão de espera.
João que não era de reboliços com um sorriso aceitou a mentira que
escutara... e também já cansado de andar aceitou de bom grado a pausa que
poderia dar.
Deu mais alguns passos e encontrou um restaurante que o causava
inspiração com as cadeiras coloridas e as mesas muito longas. Olhar para as
pessoas que estavam no restaurante dava a ele uma sensação de infinidade o que
o fazia pensar que a felicidade era algo próximo daquilo. Ao sentar, João percebeu
que tal sensação era insuficiente e vazia de tão grande que o infinito é. Ele
tinha completa certeza que a felicidade não poderia ser inócua e sem fim.
Deduziu, um pouco já tonto de tanto pensar, que a felicidade então era finita
como um grão de areia e que várias felicidades juntas faziam uma praia.
João descobriu! Descobriu o que era a felicidade que o locutor
dizia, agora só faltava esperar ela chegar. João ficou esperando a praia vir,
mas ela demorava. Ele começou a achar que ela estava atrasada, todavia o homem
da rádio não avisou que horas ela chegaria. O que fez João pedir a terceira
água – a segunda ele já tinha tomado há muito tempo.
João viu surfistas, banhistas, socorristas... e nada da
praia.
João tomou mais um gole de sua água, agora já da sua vigésima
garrafa.
Engolia e engolia, em um dos goles o rapaz sentiu sua existência
abaixar, o pulmão apertar não deixando o ar nem entrar nem sair, percebeu que
os olhos não avistavam mais.
Sentiu os pés na areia e depois um alívio. A praia havia chegado.