Eu estava na casa de uma amiga conversando e rindo quando reparei que minha barriga começava a roncar. Não só eu, mas minha amiga também ela até me ofereceu comida, por um instante pensei em aceitar e foi então que lembrei que na minha casa tinha pão. É raro em casa ter pão, normalmente tem aqueles industrializados e que se dizem lights. Era pão francês, o cheiroso e belo pão francês. Tudo bem que era de dois dias atrás, estava lá na prateleira mofando, mas dava para fazer o que eu estava pensando na verdade ficaria muito melhor do que se fosse um pão que tivesse acabado de sair do forno. Recusei a oferta de comida de minha amiga e fui correndo para casa dizendo que tinha coisas excepcionais para fazer. Com certeza vocês não estão entendo o porque do pão, lhes explicarei: quando pequeno, há mais ou menos quinze anos atrás, minha avó me dava como café da manhã pão francês todo picotado no prato e dissolvido com café, leite, açúcar e de vez em quando achocolatado (nunca fui muito adepto de chocolate). Eu me esparramava naquele prato, comia tudo ferozmente. Exigia sempre mais e mais, tinha até uma frase específica para pedir: "Vó, faz pão no prato com café com leite e coloca na minha boca?". Era um tipo de comida exótica e totalmente banal.
Cheguei em casa fui esquentar o leite de uma forma super apressada como se estivesse atrasado para algo, enquanto esquentava eu ia picotando o pão em uma tigela. Depois de quente derramei o leite na tigela, depois o café e por fim o açúcar... peguei uma colher, mexi um pouco e fui com a tigela em mãos para a sala.
Na primeira colherada me vieram inúmeras lembranças a cabeça: eu ao lado da minha vó em nossa casa miúda de apenas dois cômodos - eu comendo e a minha vó me olhando -, meus primos que moravam na casa ao lado chegando da escola e olhando aquela gororoba com caras estranhas. Vou a fundo e lembro mais... Vejo-me brincando na rua, na verdade fugindo de casa para brincar na rua. Encontro meu pai gordo e cabeludo chegando todo sujo do trabalho e minha mãe baixinha com uma saia florida sorrindo para mim. Relembro de todos nós unidos naquela pequena casinha tentando por um televisão muito antiga para funcionar... Uma lágrima escorre do meu olho esquerdo e eu convulsivamente não paro de comer.
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