quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A alma em um lápis


  Realmente acredito no poder da escrita, creio na força que ela pode trazer para quem a faz. Toda dor e tristeza tencionadas em um lápis. Todo medo e tensão em um papel. E por fim toda alegria e reconhecimento em um olhar. Escrever é expor sua alma. Apenas com a inquietude do corpo que se pode escrever verdadeiramente.  Saibam o que é escrever: 

  "Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não me lembro por que exatamente eu o disse, e com sinceridade. Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva.
   Não estou me referindo muito a escrever para jornal. Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transformar num conto ou num romance. É uma maldição porque obriga e arrasta como um vício penoso do qual é quase impossível se livrar, pois nada o substitui. E é uma salvação.
   Salva a alma presa, salva a pessoa que se sente inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende a menos que se escreva.
Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada.
   Que pena que só sei escrever quando espontaneamente a "coisa" vem. Fico assim à mercê do tempo. E, entre um verdadeiro escrever e outro, podem-se passar anos.
   Lembro-me agora com saudade da dor de escrever livros."


Lispector, Clarice 

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